quarta-feira, 2 de novembro de 2016





Breve meditação sobre a semana



A rua. Os carros movidos a petróleo. Os semáforos fechando. As cantadas de pneus freando. Os anúncios dos carros de som. As latas de metal escrito "cerveja". A minhoca de metal japonesa serpenteando numa plataforma de concreto. Sucata japonesa, pois em nenhum canto desses 8.515.767, 049 quilômetros quadrados se é capaz de construir um chassi de trem. Os cartazes de refrigerante, essa bebida sempre presente nos momentos especiais da vida. Afinal, hoje é um dia especial: é o "último dia da semana". O povo se acotovelando numa atmosfera eufórica análoga a da segunda vinda de Cristo.

Nunca entendi essa empolgação com a sexta-feira.

Depois de trabalhados um, dois, três, quatro dias, exaustos, ainda precismos encarar mais uma sexta. "Apenas quatro dias", dirão alguns, mas são quatro dias após um final de semana que começa com a palavra "fim", de tão curto. Embora tenha dois dias no calendário, o aborrecimento que se experimenta em um deles demanda a necessidade de um dia adicional para descansar. Mas daí o despertador já está tocando bem cedo na segunda, a famigerada segunda-feira. Nesse contexto, fica fácil concluir que o desprezo por ela vem do domingo, do aborrecimento massacrante desse dia... 

É de se lastimar o contraste entre os semblantes da sexta e os do domingo, sobretudo no domingo à noite. Schopenhauer dizia que, na vida civil, o domingo representa o aborrecimento, e os seis dias da semana a miséria. Todavia, acredito que o sábado seja um bom dia, pois é um dia livre seguido de outro livre. Na verdade a semana está configurada para o trabalho; o domingo existe para o fastio que clama pela atividade, a semana de trabalho.

E eis que a saudade experimentada na sexta se transforma no tédio dos casais; a necessidade de distração em ressaca; o descanso, nos corpos esparramados em frente ao besteirol da tv. O alívio momentâneo que a sexta-feira traz aos desempregados se transforma em desespero na eminência de mais uma semana de inércia forçada e incerteza. Alguns são confrontados com uma sensação de vazio excruciante no domingo à noite, algo realmente desafiador. 

No domingo à noite o tempo esfrega sua supremacia em nossas caras. Nem é bom pensar muito a respeito. A solução é focar na segunda. Apenas a perspectiva dela traz algum alívio.








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